Um site sobre o Metro de Lisboa?

O Metropolitano de Lisboa já foi uma das jóias da cidade. Por alturas da Expo'98, mesmo chegou a ser a menina-dos-olhos de muitos lisboetas. A administração do Metro desdobrou-se nessa época em contratos com artistas, pintores, músicos, arquitectos... Houve até quem dissesse que este era o Metro mais lindo da Europa.

Passados 10 anos, o Metro está à beira de se transformar no paradigma da decadência administrativa nacional. O número de letreiros de «Avariado» é tão grande, tão recursivo, tão constante, omnipresente e generalizado, que começo a desconfiar se não seria bom negócio montar uma oficina de produção de dísticos só para o Metro. É que os que por lá pululam são uns papelitos amarrotados (às vezes rasgados pela fúria utente), mal alinhavados numa impressora manhosa, muitas vezes até escritos à mão.

As máquinas de cobrança não funcionam, recusam-se a aceitar determinadas notas (as pequenas, claro está, por serem as mais correntes...). Ao procurarmos socorro nas bilheteiras, ainda durante as horas de expediente, vamos encontrá-las frequentemente abandonadas. Aí está outra lucrativa série de dísticos a produzir: «Encerrado».

É preciso dizer, a bem da verdade, que todos os transportes públicos de Lisboa (excepto talvez a Carris) se encontram no mesmo estado de abandono e decadência. Percorrer Lisboa passando sucessivamente do Metro para as estações de comboios e barcos é como passear numa floresta densa de dísticos: «avariado», «encerrado», «fora de serviço», «em manutenção»...
Esses entroncamentos de transportes que estranha e anglicanamente passaram a ser denominados «interfaces» são hoje a face horrenda da decadência administrativa e do desprezo pelas massas citadinas.

O desleixo e a incúria das administrações ascende a tal grau, que já nem se dão ao trabalho de retirar, camuflar ou resguardar em armazém as omnipresentes máquinas avariadas (ou, mais eufemisticamente, «fora de serviço»). Máquinas, escadas rolantes, elevadores, bilheteiras, portões, cancelas automáticas, corredores e passagens de acesso permanecem quais monstros mortos e abandonados, jazendo a esmo num colossal ferro-velho, um cemitério de proporções metropolitanas.

No Chiado, com os seus assustadores cinco lanços de escadas, a todo o instante se vêem turistas carregados de malões, idosos apoiados em bengalas, gentes batidas do cansaço diário, paradas, perplexas, à beira do primeiro degrau: que fazer?

Curiosamente, esta decadência administrativa disparou por alturas da introdução de certas inovações (formidáveis, no dizer dos próprios administradores).
Essas inovações já prenunciavam o desvario administrativo. Destacamos, entre outras, a iniciativa de criar bilhetes electrónicos. A justificação anunciada era a de poupar papel. Nesse preciso instante deveríamos todos ter compreendido que a administração do Metro tinha enlouquecido e entrado em roda livre. Os famosos bilhetes electrónicos são feitos de papel e derivados do petróleo e são-nos entregues com vários papelinhos de factura e recibo que teríamos de guardar para qualquer futura reclamação, em caso de avaria. A dita avaria acabará por chegar mais cedo que tarde - entretanto, quem teve a pachorra metódica guardar papelinhos nos bolsos durante o ano inteiro?
Os bilhetes electrónicos foram um expediente engenhoso para gastar mais papel, montar um belo negócio de cartõezinhos electrónicos, e sobretudo sacar abusivamente mais dinheiro aos utentes, sem aumento aparente de tarifas...

Estas páginas procurarão dar conta diária das avarias e desleixos a que o utente dos transportes públicos se encontra sujeito em Lisboa, com particular destaque para o Metro.
Todas as contribuições fotográficas e outras são bem-vindas.