19/01/11

Chiado, 18.01.2011

Como vêem, a avaria continua.
Até aqui, nada de novo.
A novidade é outra: contagiado pela decadência das escadas, o dístico de «Avariado» jaz de borco, morto de inanição e desânimo.
Lá em baixo, porém, o papelito escrito à mão na semana passada permanece de pé no seu posto, ostentando estoicamente aquela frase tão poética: «escadas a subir paradas».

Entretanto, feita a ronda dos elevadores, conclui-se espantosamente que todos estão avariados.
Desgraçadamente a minha câmara fotográfica engasgou-se no preciso momento em que um casal com duas crianças traquinas e um bebé dentro de um carrinho procurava descer as escadas sem perder controle dos acontecimentos. Que incómodo engasgo; da próxima vez vou convidar o Eisenstein a vir passear comigo ao metro, que a ele nunca falha a câmara nestas ocasiões.
Para todos os efeitos, visto que gente com carrinhos de bebé nunca falta no metro (geralmente mães sozinhas), fica prometida a foto.

Como se pode ver, um utente de cabeça perdida fez uma bravata... e rasgou o papelinho onde estava escrito «avariado». Os lisboetas, realmente, são muito bravos... A administração do metro deve estar em casa a tremer de medo...
Além disso também se pode ver o fotógrafo e, por cima dele, o reflexo das câmaras de vigilância.
Estas não têm legenda de «avariado». No entanto, quando um dia fomos assaltados neste mesmo lugar e pedimos as imagens de vigilância para entregar à polícia, obtivemos esta resposta singela mas terminante: «Isso não podemos fazer».

Esta, em compensação, tem legendas por dentro e por fora.
E umas portas bem largas.
Só é pena não funcionar.

Não ficaria bem concluir a série de hoje sem um clássico: o papa-notas sem apetite.

Chiado, 14.01.2011

Há vários meses que as escadas rolantes do Chiado (todos os lanços!) estão avariadas.

Não, não se trata de avarias sucessivas, que por azar aconteçam pouco antes de por lá passarmos. Trata-se de uma avaria constante, ininterrupta, relaxadamente entregue a si mesma. Há mais de um ano.

Felizmente alguém se lembrou de espetar um pau no pavimento e pregar lá um papelito escrito à mão, com esta frase tão poética: «Escadas a subir paradas». Podemos ter a pior administração de metro do mundo, mas ao menos continuamos a ser um país de grandes poetas.

Anjos, 2009-2010

Começo esta série com um fenómeno que durou mais de um ano.

o corrimão caído

A estação dos Anjos é um dos casos mais paradigmáticos do desleixo metropolitano.

Durante um ano e meio, um dos corrimãos da entrada sul permaneceu caído, meio atravessado nos degraus, como se aquele lugar fosse um baldio ao deus-dará.

Lá em baixo, o cais encontra-se à beira do negrume – as lâmpadas vão-se fundindo, uma a uma; ao longo de todo o cais, apenas resta uma aqui, outra ali. (Falta-nos acrescentar aqui uma fotografia desse lugar tristemente cinzento. Lá virá.)
Cá em cima as máquinas encontram-se a meia haste vitalícia. A cancela automática mais larga permanece sistematicamente avarida durante semanas a fio, por vezes meses.
A pobre da tabuleta que fornece ao passageiro desnorteado alguma esperança de alcançar o destino também se despenhou e adormeceu nessa posição durante umas semanitas.
É preciso acrescentar que esta zona, nos últimos 4 anos, passou a ser talvez a que mais abriga jovens utilizadores de bicicletas; entretanto, desde há 2 ou 3 anos, com a construção de numerosos hotéis ao longo da avenida, passa por aqui um rodopio constante de viajantes carregados de malões.
Ora a dita cancela é a única por onde uns e outros conseguiriam passar. Acrescente-se que a maioria destes estrangeiros não tem a tara de ir de carro para todo o lado, como nós; estão estranhamente convencidos de que os transportes públicos servem para... transportar o público; e que não são um favorzinho, mas sim um contrato mútuo de serviço honestamente prestado, contra o pagamento de uma tarifa.

 E por fim as bilheteiras automáticas. Sempre avariadas, na totalidade ou parcialmente.

Vai ser difícil manter este blog, dando conta diariamente do estado das coisas, sem dar a ideia de que estamos a usar sempre a mesma foto...
Neste caso, como em cerca de metade dos casos no Metro, o Multibanco está avariado.
A agravar este facto vem o «comedor» de notas, que geralmente não aceita algumas das notas correntes.
Em muitos casos o passageiro não pode pagar com multibanco, não pode pagar com a única nota que traz no bolso porque a máquina cospe-a, e se tiver a ideia (naturalíssima, diga-se) de entrar na carruagem sem bilhete corre sérios riscos de encontrar um fiscal com desconfiança a mais e inteligência a menos para lidar com o caso.